Letícia
Creio eu, que casa de avô que mora longe sempre é mais gostosa, afinal todos os dias são dias especiais, pelo menos era assim na casa do meu avô.
Meu avô era um avô de férias, sempre disposto a nos receber da melhor maneira possível em sua grande casa e sempre muito bem arrumada pela “vovó” Jacyra; fazia-nos ficar deslumbrados. Sua casa era diferente de outras; não sei o que me fazia ter essa impressão, talvez pela forma clássica de decoração da tia Jacyra, misturado com os gostos caboclos do vovô. Pois é, era em meio a sofás bonitos que se encontrava a rede do vovô, em plena sala, sempre a espera de um bom cochilo, briga certa das crianças para ver quem se deitava. E ao lado do espelho um menino jornaleiro de madeira que mesmo quando foi vendido ecoava seu mudo som pela sala, afinal algo aquele garoto gritava, já os quadros, pareciam ser escolhidos a dedos, um por um, bem emoldurados, bem pintados, sempre havia uma novidade na parede, e tudo tinha uma função, uma história um por que. Até mesmo a escada era especial, pois era ali que o vovô tentava sintonizar o seu radinho, que como único, pegava as estações “do estrangeiro”, para ele treinar, Frances, espanhol, inglês,...
Lá nunca podia faltar, moda de viola, canto de passarinho e um bom vinho. Bom...na verdade não sei, pois nunca os provava; mas era assim que ele fazia parecer, ao apreciar com tamanho gosto. Pós o almoço, era em volta da mesa que permanecíamos reunidos e eu de caçula intrometida me atirava ao seu colo, para assim começar as seções de mágicas e “contações”.
E é nessa copa, onde os Natais se passavam, onde os passarinhos cantavam, onde as mágicas eram sempre feitas e refeitas e gargalhadas dadas que também tocava as badaladas do relógio do vovô, um som que me causava respeito, às vezes medo, mas era através dele que eu sabia ao me deitar que ainda estava de férias na casa do vovô. Blimblom, blombim, blimblom, blombim, bemmm, bemmm, bemmm, bemmm, bemmm, bemmm, blemm, blemmm, blemmm, blemmm, blemmm, blemmm...
Um brinde ao bom e velho Homero e por cada lembrança que ele tem nos deixado, além das minhas férias de infância! La santé!
Letícia, quase 33 anos, mestre em Design, coordenadora de produção e artes gráficas de uma distribuidora, professora universitária em um curso de engenharia (tudo a ver), ama arte, artesanatos (só não tem muita habilidade pra coisa). E acima de tudo, mãe da Nina.
Escrito na noite de 25/12, às 2h da manhã, com o desejo imenso de estar lá, pertinho dele.
Vovô Homero faleceu no dia 27/12 logo pela manhã. Seu velório e sepultamento foram uma manifestação de memórias, saudades e glória a Deus por esta vida que partiu, mas que sempre brilhará em nós.
Vovô Homero faleceu no dia 27/12 logo pela manhã. Seu velório e sepultamento foram uma manifestação de memórias, saudades e glória a Deus por esta vida que partiu, mas que sempre brilhará em nós.