domingo, 4 de julho de 2010

SOMOS PRODUTO DE NOSSA HISTÓRIA E RELACIONAMENTOS



Leila

Segundo a Psicanálise, somos produto de todos que passaram por nossa vida. Nossa individualidade não é tão indivisível assim, pois cada um colocou sua marca em nós, alguns mais, outros menos, alguns boas, outros más. A nossa infância é o período mais fértil para a formação de nosso eu, através do que vivemos e das pessoas com quem convivemos.
Meu avô materno era pai de uma família de 10 filhos. Era pastor e foi pastorear uma igreja de Presidente Prudente, no tempo de seu início (1940). Prudente naquela época era muito longe de tudo. (rsrs) e só a Estrada de Ferro Sorocabana dava um “bom” acesso à cidade. Acompanharam o vovô, sete de seus filhos. Cada um deles com sua prole. As duas solteiras cuidavam de vovô, já viúvo. Tio Coriolaninho, casado com Nininha, professora, era criador de curiós, administador de fazenda e “roleiro” tinha Vera, Neto, Beto e Regina e moravam perto de nós, na rua Siqueira Campos. Tio Flávio, também administrador da fazenda de vovô, tocava piano super bem e órgão aos domingos na igreja, apesar das mãos grossas de tanto lidar com o gado, tirando leite. Era casado com tia Ondina, também professora e pai de sete de nossos primos: Flávio Augusto, Lucila, Carlito, Celsinho, Walter, Cecília e Leny. Tio Carlos bancário, casado com Olívia na época tia os filhos Gustavo e Beto. Cristina nasceu bem depois, temporona. Tio Gustavinho, o caçula, cantor, voz linda, era bancário também e veio depois. Casado com tia Lucy, teve Meg, Márcia, Guto e mais tarde Silvinha. Papai, professor veio no “cheiro”. Casado com Lúcia, a filha caçula de vovô, também professora teve quatro meninas: Lúcia, Leda, eu Leila e Marieta. Dez anos depois veio Homero, completar a família.
Histórias diferentes, que se cruzaram. Momentos significativos. Cada um deles trouxe sua influência e me constituiu, tornando-me o que sou...cada um deles hoje, parte de minhas lembranças. Muitos já faleceram. Alguns primos eu não vejo faz tempo, tenho notícias, outros recebo e-mails...mas cada um foi importante para me constituir. Hoje, gosto de ler, gosto de música, poesia, escrever, sou curiosa, gosto de me relacionar com as pessoas, sou cristã (este é o lado bom, o ruim vai descobrindo quem se relaciona comigo)..e tudo isso é fruto destes e outros relacionamentos de minha infância, das reuniões culturais na casa do vovô, onde todos nos reuníamos no domingo depois do culto para cantar, recitar, tocar diferentes instrumentos.




Deixo aqui uma poesia que meu avô Coriolano Dias de Assumpção, dito “quebra panela” recitava nestes serões.

De Afonso Celso
Rosa
Rosa colhia sozinha
Lindas rosas no jardim
E nas faces também tinha
Duas rosas de carmim.
Cheguei-me e disse-lhe: Rosa
Qual dessas rosas me dás?
As da face primorosa
Ou essas que unindo estás?...
Ela fitou-me sorrindo,
Ainda mais enrubesceu;
Depois, ligeira fugindo,
De longe me respondeu:
"Não dou-te as rosas das faces
Nem as que tenho na mão:
Daria, se me estimasses,
As rosas do coração."

Leila Arruda, 59 anos, pedagoga, mestre em assentamentos humanos, professora de Didática do IESB, coordenadora do núcleo Freinet de Bauru, mãe de 3 filhos (Leopoldo, Leilany e Letícia) e vó de 6 netos.

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