segunda-feira, 2 de agosto de 2010

INFÂNCIA: tempos de semear

Leilany Arruda

Tenho nos últimos tempos sentido um grande incômodo sobre a situação da infância no Brasil. É claro que como educadora há 19 anos, essa não é uma preocupação só de agora, mas como nesse período estou mais intensamente nesse papel maternal e com tempo maior para reflexões que saem da esfera institucional, essa questão tem ocupado mais minha mente.

Temos em nossa sociedade vários problemas sociais, culturais e econômicos que afetam diretamente a qualidade de vida das crianças e a formação de seu caráter, tais como: violência; desemprego; criminalidade; mídia comercial agressiva; escolas e serviços de saúde de péssima qualidade...

Enquanto cidadã comum tenho pensado como plantar alguma semente que possa contribuir para uma sociedade melhor hoje e amanhã e a estratégia que elegi atualmente é formar 3 meninas e 1 menino aptos a intervir de forma positiva no mundo. Mas mesmo esse foco tão pequeno é um imenso desafio!

Eis que há aproximadamente 1 mês e meio fui desafiada a ampliar esse foco e convidada a compor uma equipe de educadores cristãos que atuaria junto a várias crianças (trabalhamos sem um número limite de crianças, o convite foi feito à comunidade Campista como um todo e um ônibus rodou a cidade pegando das crianças interessadas em participar). Tivemos então 4 dias de atividades como: "contação" de histórias; artes; música; danças; teatro; evangelização... a um grupo de aproximadamente 200 crianças por dia. Foram 4 dias de muitas dificuldades!!!

Tivemos ali crianças de várias comunidades, crianças que eram de facções criminosas, que tinham dificuldades em lidar com autoridade, crianças que iam apenas interessadas no lanche, crianças que vivem fora da escola, no mundo da pipa, da bola e das drogas...  mas em meio a esse quadro tivemos muitas coisas positivas acontecendo, pois não tivemos nenhum episódio grave de agressão, tivemos crianças que em meio às atividades davam seus depoimentos de vida e que se mostravam dispostas a buscar outros modos de vida.

A partir da análise do papel das missões no Brasil colônia, muitos de nós, profissionais ligados às ciências humanas e sociais, podemos questionar o papel das igrejas na educação das crianças, mas em muitas comunidades o que separa a criança e o adulto da criminalidade é a fé.

Buscamos nesses 4 dias promover tempos de reflexão sobre suas próprias vidas, por meio de atividades lúdicas, contribuindo para o desenvolvimento moral e crítico dessas crianças. Sementes foram plantadas! 
Como educadora sei que 4 dias não muda a vida e os valores de ninguém.

Por isso, para que algo de fato mude e essas e outras boas sementes dêm frutos; sonho com uma sociedade em que:

 - os professores se comprometam a ir além do conteúdo conceitual;


- os governantes de fato busquem estratégias para se garantir o desenvolvimento integral dessas crianças, garantindo seus direitos básicos por meio de políticas públicas efetivas;


- o padeiro se preocupe com as crianças que moram ali perto de sua padaria;


- a Fundação Roberto Marinho (e as demais emissoras comerciais do nosso país) passe a contribuir de fato com a formação de uma sociedade menos consumista e mais democrática (a mídia comercial teria ferramentas para isso);


- e eu e você possamos pensar sempre em como concretizar em nosso dia-a-dia pequenas ações por um mundo melhor.

Segue vídeo de parte do encerramento das atividades com pequena avaliação do pastor da igreja onde aconteceu esse trabalho.

  



Leilany tem 35 anos, é Pedagoga, mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Mãe de Laura (13), Sofia (6), Sara e Daniel (1 ano e 10 meses). Casada há 15 anos com Marcus. Atua na área da educação há mais de 15 anos, chefiou equipes e atualmente coordena uma casa, o exército de filhos, a empregada, presta assessoria na área de Trabalhos Acadêmicos e escreve para os blogs CRAZY MOM e CitroNelas

Um comentário:

  1. Leilany que trabalho lindo! SErvirá de exemplo para nos, bauruenses.
    beijos

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